RATOEIRAS
(de Francisco Filardi)
(de Francisco Filardi)
missão impossível?
Pesquisas
realizadas em shopping centers apontam a segurança como um dos
fatores que justificam a satisfação de frequentá-los. De fato,
shoppings são lugares aprazíveis, limpos, de relativo conforto; mas
distantes de serem efetivamente seguros.
Nas
chamadas pesquisas de satisfação do cliente externo,
profissionais de marketing ou comunicação aplicam questionários
padronizados, quase sempre tendenciosos, os quais visam a realçar
os aspectos positivos do negócio. Em geral, esses instrumentos
oferecem pouco ou nenhum espaço para críticas. Assim, são
ineficientes para documentar que a segurança, ao contrário do
verificado nas pesquisas, é o fator mais negligenciado pelos
estabelecimentos comerciais, no que se refere à quantidade e à
localização dos acessos. Se observarmos com o devido cuidado,
constataremos que tais edificações, grosso modo, são tremendas
armadilhas, ratoeiras prontas para desarmar a qualquer tempo e levar
à morte elevado número de pessoas.
Tomemos
como exemplo os shoppings Tijuca e Botafogo Praia, no Rio de Janeiro.
O primeiro, localizado na zona norte, recebeu na fase de expansão
quatro novos pisos, sendo um no subsolo, dois de garagens e outro
exclusivo para seis salas de cinema - os quais foram acrescidos aos
sete da construção original (três pisos de lojas e quatro de
garagens).
Antes
de ser erguido, cabe lembrar, parte da estrutura do shopping Tijuca
permaneceu abandonada ao sol, ao vento, à chuva e ao sereno
(durante anos), devido à falência da imobiliária original, ao
embargo da obra na justiça e à inércia da prefeitura. Por efeito
do impasse burocrático, o Tijuca foi inaugurado somente em 1996. De
lá para cá, eventuais boatos de rachaduras nas paredes do shopping
passaram a assombrar os frequentadores mais atentos, sobretudo os que
testemunharam o abandono da estrutura primitiva. No entanto, foi
somente há cerca de quatro anos (em dezembro de 2008), que foram de
fato constatadas as tais rachaduras. Jornais de grande circulação
noticiaram o fato e à administração do shopping coube os devidos
reparos.
A
insegurança quanto à integridade estrutural do shopping Tijuca nos
leva a um paralelo: nem o projeto original nem a BRMalls, atual
administradora, contemplam o escoamento de funcionários e
frequentadores em situações emergenciais - o que é gravíssimo. Um
passeio pelo subsolo (onde atendem o Outback, a BodyTech, a Arezzo, a
Brink Center e a Polishop, entre outras) é suficiente e bastante
para constatar que, em caso de incêndio ou de desabamento, não
haverá sobreviventes. E não é preciso ser especialista em
edificações para tal. O shopping Tijuca dispõe de apenas um acesso
principal e três acessos laterais, todos situados no primeiro piso.
O Botafogo Praia Shopping, localizado na zona sul, padece do mesmo
mal: um acesso principal e dois laterais que, a exemplo do que ocorre
no Tijuca, situam-se no primeiro piso.
É
claro que essa falha de projeto não é exclusiva dos shoppings
citados. Poderíamos citar outros, mas a finalidade aqui é despertar
a atenção da sociedade e das autoridades para o risco iminente. É
inadmissível que providências sejam tomadas somente após consumada
a catástrofe. Já tivemos experiências extremamente dolorosas nesse
sentido. Todos lembramos do trágico incêndio no edifício
Andorinhas, em 1986, no centro do Rio, o qual vitimou fatalmente 21
pessoas e feriu outras 50 – por negligência e condições
inadequadas de segurança.
O
que nos causa estranheza é o fato de que o funcionamento de
estabelecimentos comerciais está condicionado à emissão de um
certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros. Assim sendo,
cabe-nos perguntar: que condições devem ser atendidas para a
emissão desse documento? Por que o funcionamento de um shopping é
autorizado, mesmo apresentando séria restrição quanto à
segurança?
Independente
de respostas cabíveis, é preciso que as autoridades competentes
intervenham, antes que alguma dessas “ratoeiras” desarme. A nós,
frequentadores e funcionários de shoppings, cabem as tarefas de
alertar a sociedade, de denunciar irregularidades e de reivindicar
condições tais que assegurem a tranquilidade do nosso trabalho e do
nosso lazer.
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