terça-feira, 16 de outubro de 2012

TEXTO DENUNCIA SEMELHANÇA ENTRE SHOPPINGS E RATOEIRAS

RATOEIRAS
(de Francisco Filardi)

missão impossível?


Pesquisas realizadas em shopping centers apontam a segurança como um dos fatores que justificam a satisfação de frequentá-los. De fato, shoppings são lugares aprazíveis, limpos, de relativo conforto; mas distantes de serem efetivamente seguros.

Nas chamadas pesquisas de satisfação do cliente externo, profissionais de marketing ou comunicação aplicam questionários padronizados, quase sempre tendenciosos, os quais visam a realçar os aspectos positivos do negócio. Em geral, esses instrumentos oferecem pouco ou nenhum espaço para críticas. Assim, são ineficientes para documentar que a segurança, ao contrário do verificado nas pesquisas, é o fator mais negligenciado pelos estabelecimentos comerciais, no que se refere à quantidade e à localização dos acessos. Se observarmos com o devido cuidado, constataremos que tais edificações, grosso modo, são tremendas armadilhas, ratoeiras prontas para desarmar a qualquer tempo e levar à morte elevado número de pessoas.

Tomemos como exemplo os shoppings Tijuca e Botafogo Praia, no Rio de Janeiro. O primeiro, localizado na zona norte, recebeu na fase de expansão quatro novos pisos, sendo um no subsolo, dois de garagens e outro exclusivo para seis salas de cinema - os quais foram acrescidos aos sete da construção original (três pisos de lojas e quatro de garagens).

Antes de ser erguido, cabe lembrar, parte da estrutura do shopping Tijuca permaneceu abandonada ao sol, ao vento, à chuva e ao sereno (durante anos), devido à falência da imobiliária original, ao embargo da obra na justiça e à inércia da prefeitura. Por efeito do impasse burocrático, o Tijuca foi inaugurado somente em 1996. De lá para cá, eventuais boatos de rachaduras nas paredes do shopping passaram a assombrar os frequentadores mais atentos, sobretudo os que testemunharam o abandono da estrutura primitiva. No entanto, foi somente há cerca de quatro anos (em dezembro de 2008), que foram de fato constatadas as tais rachaduras. Jornais de grande circulação noticiaram o fato e à administração do shopping coube os devidos reparos.

A insegurança quanto à integridade estrutural do shopping Tijuca nos leva a um paralelo: nem o projeto original nem a BRMalls, atual administradora, contemplam o escoamento de funcionários e frequentadores em situações emergenciais - o que é gravíssimo. Um passeio pelo subsolo (onde atendem o Outback, a BodyTech, a Arezzo, a Brink Center e a Polishop, entre outras) é suficiente e bastante para constatar que, em caso de incêndio ou de desabamento, não haverá sobreviventes. E não é preciso ser especialista em edificações para tal. O shopping Tijuca dispõe de apenas um acesso principal e três acessos laterais, todos situados no primeiro piso. O Botafogo Praia Shopping, localizado na zona sul, padece do mesmo mal: um acesso principal e dois laterais que, a exemplo do que ocorre no Tijuca, situam-se no primeiro piso.

É claro que essa falha de projeto não é exclusiva dos shoppings citados. Poderíamos citar outros, mas a finalidade aqui é despertar a atenção da sociedade e das autoridades para o risco iminente. É inadmissível que providências sejam tomadas somente após consumada a catástrofe. Já tivemos experiências extremamente dolorosas nesse sentido. Todos lembramos do trágico incêndio no edifício Andorinhas, em 1986, no centro do Rio, o qual vitimou fatalmente 21 pessoas e feriu outras 50 – por negligência e condições inadequadas de segurança.

O que nos causa estranheza é o fato de que o funcionamento de estabelecimentos comerciais está condicionado à emissão de um certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros. Assim sendo, cabe-nos perguntar: que condições devem ser atendidas para a emissão desse documento? Por que o funcionamento de um shopping é autorizado, mesmo apresentando séria restrição quanto à segurança?

Independente de respostas cabíveis, é preciso que as autoridades competentes intervenham, antes que alguma dessas “ratoeiras” desarme. A nós, frequentadores e funcionários de shoppings, cabem as tarefas de alertar a sociedade, de denunciar irregularidades e de reivindicar condições tais que assegurem a tranquilidade do nosso trabalho e do nosso lazer.

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