sábado, 22 de setembro de 2012

ATOR LUIS MELO ESTREIA SOLO INÉDITO NO RIO DE JANEIRO

A companhia franco-brasileira 
Dos à Deux está de volta, 
desta vez para fincar raízes


Dois anos depois de trazer ao país o premiado espetáculo Fragmentos do Desejo, vencedor do Prêmio Shell de 2010 na categoria especial, a companhia franco-brasileira Dos à Deux está de volta. Radicados na França, desde o início dos anos 90, os brasileiros André Curti e Artur Ribeiro se instalaram no ano passado em sua nova sede, no bairro carioca da Glória – ainda sem data para inauguração oficial –, onde iniciaram, em dezembro, a concepção, dramaturgia e direção de Ausência. Oitavo trabalho da carreira, o espetáculo é o primeiro com estreia mundial no Brasil, no sábado passado, 15 de setembro, no SESC Ginástico.
 
Outra novidade é que os dois não estarão em cena. No palco, apenas o ator Luis Melo, protagonista do solo que marca seu début no teatro gestual. Com patrocínio do FATE (Fundo de Apoio ao Teatro – Prefeitura do Rio de Janeiro), Ausência fica em cartaz até 7 de outubro. Em novembro, segue para o Teatro da Caixa Cultural, em Brasília, e depois atravessa o Atlântico para temporadas em Paris e em mais três cidades francesas, entre janeiro e fevereiro de 2013.

O tema inicial da pesquisa era sobre solidão em um mundo de caos. Ao desenvolver o trabalho, André e Artur se depararam com um artigo em uma revista científica que alimentou ainda mais suas ideias: o assunto tratava do asteróide Apophis, descoberto em 2004 e que passará próximo a Terra pela primeira vez em 2029. As piores previsões são, no entanto, para o seu retorno, quando aconteceria uma possível colisão com o nosso planeta no ano de 2036, mais precisamente no dia 4 de abril. É neste dia que se desenrola toda a ação de Ausência

A notícia de uma possível catástrofe nos trouxe questões que há muito pensávamos em abordar no palco. Foi um ponto importante para iniciarmos uma viagem pela condição humana, para tratar da solidão e do caos no mundo, esclarece Artur. Em uma Nova Iorque decadente e arrasada pela radioatividade, pelo racionamento de energia elétrica e, sobretudo, pela falta de água, o protagonista vive confinado no último andar de um arranha-céu. Sua única companhia é seu adorado peixe vermelho que vive em um aquário redondo. Neste contexto caótico, sob a constante invasão de ratos que tomaram da cidade e do ar irrespirável que lhe exige o uso da máscara de oxigênio até para abrir a janela, o homem vive recluso em seu mundo particular, incapaz de enfrentar o horror das ruas. A peça trata da solidão, da necessidade que temos em tentar construir outro mundo, preencher o vazio. A ausência do título se refere a tudo: a água, a humanidade e à coragem deste homem, detalha Artur.
 
O cenário, assinado por Fernando Mello da Costa, é um ambiente hostil, recortado por um emaranhado de canos e registros que se cruzam em todas as direções para fornecer ao protagonista a assustadora ração diária de apenas uma gota d’água. É ela que garante a sobrevivência do personagem e ao mesmo tempo o empurra para o terrível dilema: matar ou não o ser que mais ama, sua única companhia, para beber a água do aquário. Diante da situação extrema de enclausuramento, escassez e solidão em que vive, o homem alterna momentos de crueldade – quando caça e tortura os ratos que invadem seu espaço – com ternura, dedicada ao peixe, e loucura, ao imaginar uma figura feminina a partir das formas dos objetos ao seu redor. A carga dramática de cada situação é fortemente acentuada pela trilha original de Fernando Mota e pela luz assinada por Ph e Artur Ribeiro, marcas registradas do grupo.

O primeiro solo criou desafios para André e Artur, que ao longo dos 14 anos de trajetória da companhia se tornaram referência mundial na linguagem teatral em que a palavra dá lugar ao gesto e à interpretação corporal: Não há conflito entre personagens, apenas do protagonista com ele mesmo, o que nos exigiu novos caminhos para a linha dramatúrgica que construímos nos trabalhos anteriores, explica André. É um desafio também para o Luis, que sedimentou toda a sua carreira em cima do verbo. É um encontro com um grande ator, que faz sua entrada nesse universo até então desconhecido para ele. Esse é um dos grandes prazeres da montagem, entusiasma-se. 

Teatro Sesc Ginástico
Rua Graça Aranha, n° 187 - Centro/RJ
Tel: 2279-4027
De quarta a domingo, às 19h
R$20,00
60 minutos
Não recomendado para menores de 14 anos
Até 07/10/2012 

fonte: Rio no Teatro

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