domingo, 2 de outubro de 2011

POEMA INÉDITO DE FRANCISCO FILARDI

CORROSÃO

(versos para uma estranha)


Houve um tempo em que o sol

resplandecia e as flores desabrochavam

a exalar o aroma da certeza.


O futuro estava em toda esquina.


Tempo em que o sonho era um delírio:

atraente mistura de enlevo e abraço

a acalentar-nos em suave torpor.


(Era seguro caminhar por entre as nuvens).


Mas esse era um pretérito imperfeito,

terreno movediço que nos engolia:


câncer a devorar-nos o corpo,

rotina a corroer-nos a alma.


Em verdade, o pretérito é mais-que-imperfeito,

um subjuntivo que nos desatina o presente.


Somos estranhos com tantos “se” e “porquês”,

Fomos estranhos como duas paralelas...


Daí a intensidade do estilhaço,

a lâmina fria da indiferença (tua),

o calor ácido da discussão (nossa),

a verdade (crua), a ânsia trêmula,

o rasgo, vaso que se rompe:

a agonia, a morte, o nada.


O que me resta são paredes vazias

e as migalhas do (teu) pão

que não mais desejo comer.


01/10/2011


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